A história pareceria enredo de série de televisão, se não fosse verdadeira. Em setembro, chegou ao clímax o triângulo amoroso que se desenrolou na penitenciária de Tremembé (SP) envolvendo uma fratricida conhecida por seu poder de sedução sobre homens e mulheres, a assassina do marido traidor e uma sequestradora da Grande São Paulo. As protagonistas são Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga – duas das presas mais famosas do Brasil – e a detenta Sandra Regina Gomes, a Sandrão. A cadeia do interior do Estado abriga criminosos célebres, mas ninguém imaginaria que seu capítulo mais midiático ainda estava para acontecer. Tudo começou no início do ano, quando Sandrão, 31 anos, casou-se com Elize, 32, encarcerada por matar e esquartejar seu marido, Marcos Kitano Matsunaga, em junho de 2012. O relacionamento durou pouco. A causa da separação foi Suzane, 30, que em 2002 planejou o assassinato dos próprios pais com a ajuda dos irmãos Daniel (na época seu namorado) e Cristian Cravinhos. Ré confessa, foi condenada a 39 anos e há 12 está atrás das grades. O episódio estremeceu o relacionamento entre as amigas.

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INTRAMUROS
Sandra Regina Gomes (abaixo), de smoking durante concurso de beleza
realizado no presídio. Acima, Elize, que foi trocada por Suzane

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Casadas no início deste ano, Elize e Sandrão dividiam uma cela com outros casais de presidiárias, privilégio que as internas recebem ao assinar um documento reconhecendo a relação afetiva que funciona como uma espécie de certidão de casamento, mas que não tem efeito legal. Em troca, elas não podem brigar, trair e só podem se juntar novamente a outras colegas depois de passados seis meses da separação. A união mal havia se estabelecido quando, na fábrica de uniformes de Tremembé, onde as três trabalham, tudo começou a mudar. Sandrão passou a se aproximar da sedutora Suzane, que é chefe da seção, e separou-se de Elize. Para que o novo casal pudesse oficializar o relacionamento perante a direção da penitenciária e dormirem juntas, precisavam esperar o prazo estipulado.

Foi justamente o que aconteceu em setembro, e com isso Suzane e Sandrão puderam viver juntas na cela das casadas, que dividem com mais oito duplas. As duas pretendiam realizar uma cerimônia em novembro, mas a Suzane desistiu da ideia ao saber que uma rede de tevê elaborava uma reportagem sobre ela. Não queria expor seu amor. Quando a notícia foi, enfim, divulgada pelo jornal “Folha de S.Paulo”, na terça-feira 28, seu esforço foi em vão. Pelas redes sociais, milhares de internautas passaram a comentar o fato e a compartilhar imagens ligando o caso à série “Orange is The New ­Black”. No programa, uma menina loira de classe alta (como Suzane) é presa por tráfico de drogas e, dentro da cadeia, se envolve em relacionamentos homossexuais.

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Mas quem é Sandrão, que se traja de fraque para apresentar eventos sociais na penitenciária (como o concurso de beleza Miss Primavera 2014, no qual Suzane foi jurada)? Em comemorações como a festa junina também pode adotar o papel do padre ou do noivo. Mas não se veste de homem no dia a dia porque as internas usam o mesmo uniforme, composto de camiseta e calça comprida. Nas ruas, era conhecida como Galega e foi presa em Mogi das Cruzes (SP), condenada a 24 anos pelo sequestro e morte de um adolescente de 14 anos, seu vizinho, em 2004. Depois de a família fazer o pagamento do resgate, o corpo do garoto foi achado com um tiro na cabeça. Ela e mais três homens foram responsabilizados. Em 2011, foi transferida para Tremembé após agredir funcionário de outro presídio. Lá, conheceu a atual companheira. Tudo leva a crer que a união é o motivo pelo qual Suzane desistiu da progressão para o regime semiaberto em agosto (leia quadro), a que ela teria direito. Se esperar alguns meses, quando a ala para detentas do semiaberto de Tremembé ficar pronta, Suzane poderá usufruir o benefício sem se distanciar da nova mulher. Atrás das grades, a novela continua. Se as duas viverão felizes para sempre, só os próximos episódios dirão.

FOTOS: CARLOS PESSUTO/FUTURA PRESS