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Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) se enfrentaram na noite desta sexta-feira (24) no último debate entre os candidatos à Presidência da República. O encontro, transmitido pela tevê Globo, teve formato diferente do adotado até agora, tanto no primeiro quanto no segundo turno. Pela primeira vez, presidenciáveis foram colocados diante de uma plateia de eleitores indecisos – 70 no total, escolhidos pelo Ibope – e tiveram que responder a perguntas feitas por cidadãos comuns. Outra diferença do último debate foi a maior liberdade dada aos candidatos, que puderam se movimentar livremente pelo estúdio.

O confronto também teve as tradicionais perguntas diretas entre os candidatos, que ficaram concentradas no primeiro e no terceiro blocos. O segundo e o quarto blocos foram reservados às oito perguntas dos eleitores, sorteadas pelo mediador, o jornalista William Bonner. Graças a esse formato, a discussão de propostas e o debate de ideias estiveram muito mais presentes do que nos debates anteriores.

O debate começou com questionamentos diretos sobre denúncias e comparações entre os governos do PSDB e do PT. Logo na abertura, Aécio Neves perguntou a Dilma sobre as denúncias de corrupção na Petrobras e as alegações do doleiro Alberto Yousseff de que a presidenta tinha conhecimento do esquema de propina e desvio de verbas. “A senhora sabia?”, questionou o tucano. Em sua resposta, Dilma argumentou que não há provas das denúncias apresentadas à Justiça Federal, mas prometeu “perseguir corruptos e corruptores.”

Em seguida, Dilma questionou Aécio sobre os baixos índices de desemprego, atribuindo os bons resultados à atuação de seu governo na área econômica. Em sua resposta, Aécio lembrou o crescimento pífio da economia nacional e a alta da inflação. “Esse é o retrato do Brasil real, e não do Brasil do seu marqueteiro”, disse Aécio. “Quem deixou o país com inflação maior do que recebeu foi o governo FHC”, replicou Dilma.

A habitação, especialmente o programa “Minha Casa Minha Vida”, também entrou na pauta. Dilma exaltou as realizações de seu governo, ao que Aécio respondeu que pretende manter e ampliar a construção e o financiamento de moradias populares. O tucano também refutou as supostas tentativas de “terrorismo eleitoral” da militância do PT, que estaria espalhando boatos sobre o fim do “Minha Casa Minha Vida” em caso de eleição de Aécio.

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Em seguida, questionada sobre a alta da inflação, Dilma reafirmou seu “compromisso com o combate à elevação dos preços”. Aécio, por sua vez, exaltou a estabilização econômica promovida pelo governo Fernando Henrique Cardoso. “Quem controlou a inflação fomos nós”, afirmou Aécio. “A história não se reescreve.”

Dilma usou o fim do primeiro bloco para falar sobre o Pronatec, o programa de incentivo a escolas técnicas. “Em 8 anos, vocês fizeram 11 escolas técnicas”, afirmou a petista. “Nós fizemos quatrocentas.” Em sua resposta, Aécio reconheceu que o Pronatec é “uma inspiração”, mas disse que ele precisa ser melhorado e ampliado: “Mais do que esses números decorados e estatísticas, vamos falar de educação de verdade”, pediu o tucano. Nesse momento, Bonner quase deixou Aécio sem a tréplica, mas logo reconheceu o erro e deu a oportunidade ao candidato do PSDB para terminar sua fala.

O segundo bloco começou com um eleitor indeciso questionando os candidatos sobre políticas para quem vive de aluguel. Dilma voltou a falar sobre o “Minha Casa Minha Vida”. A candidata prometeu construir mais 3 milhões de moradias e ampliar as faixas de renda para financiamentos subsidiados. “É um processo bastante democrático para impedir que haja uso político e manipulação”, afirmou, sobre o sistema de sorteio de beneficiados. Aécio, por sua vez, questionou os números de habitações entregues pelo governo do PT e prometeu ampliar os programas habitacionais com “parcerias mais efetivas”. “Nós teremos preocupação permanente em ampliar o acesso à habitação”, disse o tucano.

A questão seguinte de uma eleitora indecisa foi sobre a valorização da educação. Aécio respondeu primeiro: “Sem enfrentar a questão da educação com coragem, não vamos a lugar algum”, disse o tucano. Aécio exaltou os feitos de seu governo em Minas Gerais, disse que vai ampliar os horários de creches e valorizar professores com melhores salários e mais qualificação. Dilma, mais uma vez, apresentou os números de seu governo, apenas para ouvir de Aécio que “a candidata oficial não tem propostas e, lamentavelmente, não apresentou programa de governo.”

A terceira pergunta do segundo bloco foi sobre combate à corrupção. Dilma respondeu dizendo que a lei é branda e afirmou que, em um segundo governo, criará medidas para punir corruptos e corruptores. “Eu dei total autonomia para a Polícia Federal investigar”, disse a petista. Em sua réplica, Aécio afirmou que o governo do PT não se preocupou efetivamente em combater a corrupção. “A solução é tirar o PT do poder”, disse o candidato do PSDB. Na tréplica, Dilma disse que “nunca compactuou com a corrupção”.

A última pergunta do segundo bloco foi sobre o envelhecimento da população nacional e as condições de aposentadoria. “Vamos fazer a revisão do fator previdenciário para que ele não puna, como vem fazendo, o trabalhadora brasileiro”, prometeu Aécio Neves. Dilma, em sua resposta, lembrou que foi o governo Fernando Henrique Cardoso que criou o fator. Aécio justificou a medida diante de uma “aguda crise da Previdência”, mas recordou que foi o governo Lula que não permitiu a derrubada do fator, anos mais tarde

Aécio Neves abriu o terceiro bloco perguntando a Dilma sobre atrasos nos repasses do Fundo Nacional de Assistência. Dilma respondeu que o candidato do PSDB estava “mal informado” e disse que seu governo tem tido todo o cuidado com os programas sociais. “Meu governo não atrasa programas sociais”, afirmou a petista. “Nunca atrasou nem nunca contingenciou.” Na réplica, o tucano disse que, num eventual governo do PSDB, “não faltarão recursos para as questões sociais.”

A pergunta de Dilma para Aécio foi sobre a crise de falta de água em São Paulo. O tucano criticou o governo federal e disse que “não houve parceria com a Agência Nacional de Águas”. Aécio lembrou também a falta de chuvas e os bônus instituídos no estado paulista para quem economiza água. “O fato é que a água é responsabilidade do estado”, replicou Dilma. “Não planejar no estado mais rico do País é uma vergonha.”

Os candidatos também discutiram a reforma política. Dilma defendeu o fim do financiamento empresarial de campanhas. Em sua réplica, Aécio lembrou que o PT recebeu “milhões de reais” de empresas e que o teto de gastos da campanha à reeleição de Dilma acaba de ser ampliado.

Aécio ainda questionou Dilma sobre o escândalo do mensalão. “José Dirceu foi adequadamente punido ou era um herói nacional?”, perguntou. Em sua resposta, Dilma citou o chamado mensalão mineiro. “Todos os envolvidos no mensalão do meu partido foram investigados e punidos. E os do mensalão tucano? Nada!", disse Dilma. Quando Aécio voltou a cobrar a presidenta sobre sua posição em relação ao escândalo de corrupção – e ultrapassou seu tempo de resposta -, a plateia se manifestou e precisou ser contida, mais de uma vez, pelo mediador William Bonner.

O quarto bloco foi aberto por uma pergunta de eleitor indeciso sobre saneamento básico e combate às enchentes. Dilma, a primeira a responder, prometeu acelerar o tratamento e a coleta de esgoto em parceria com estados e municípios. “Nós achamos que o governo federal tem obrigação de colocar dinheiro, porque é uma questão de saúde pública e civilização”, afirmou a petista. Aécio afirmou que não vai terceirizar responsabilidades e prometeu desonerar os municípios e estados. “Vou tratar dessa questão diretamente”, disse o tucano.


A pergunta seguinte foi sobre a violência e as políticas de segurança. Aécio respondeu que, em seu governo, não permitirá o “represamento” dos recursos destinados à segurança pública para “fazer superávit primário”. O candidato do PSDB também afirmou que sua política externa não compactuará com países produtores de drogas. Dilma, por sua vez, relembrou as parcerias entre governo federal e governos estaduais no combate à violência, como nas favelas do Rio de Janeiro.

O tráfico de drogas e a violência voltaram a ser citados na terceira pergunta do quarto bloco. Dilma, mais uma vez, citou os números de investimentos em seu governo e falou das parcerias de inteligência e controle de fronteiras, “como foi feito na Copa”. A petista propôs modificar a Constituição para dar mais atribuições ao governo federal no combate ao crime organizado, a fim de acabar com a “desarticulação das políticas”.

A última questão do quarto bloco foi sobre mercado de trabalho para “pessoas maduras”. Aécio falou sobre a necessidade de retomar o crescimento econômico, de aumentar a credibilidade para que as empresas voltem a investir e a criar emprego para “pessoas qualificadas”. Dilma ressaltou os programas de qualificação criados por seu governo.

Nas considerações finais, Dilma salientou que o Brasil é um “país que cresce e que faz todas as pessoas crescerem, mas com um olhar especial para as mulheres, os negros e os jovens”. “O Brasil fez com que você crescesse e melhorasse de vida, não vamos permitir voltar atrás nessas conquistas”.

Aécio, em suas palavras finais, afirmou ser o candidato da mudança. “Essa mudança que você e sua família querem ver no País. Mudança especialmente na generosidade com que o governante deve tratar os brasileiros. Quero dizer que, se eu merecer sua confiança e seu voto, esteja certo que subirei a rampa do Planalto com a mesma coragem com que meu avô Tancredo Neves nos conduziu à democracia”.


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