O mundo cristão anda agitado. E se tem algo que mantêm o cinema vivo é a comoção popular. A mobilização do universo católico com o carisma do papa Francisco e o grande aumento do rebanho protestante têm estimulado a produção de filmes de tema religioso, dentro e fora de Hollywood.

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FILÃO
O diretor Ridley Scott mal acabou de filmar
"Êxodo: Deuses e Reis" (acima, com Cristian Bale) e já
anunciou o próximo trabalho: o igualmente bíblico "Rei David"

“Deus Não Está Morto”, que estreia agora, gira em torno da reafirmação da fé cristã. O herói do filme empunha a bandeira de sua crença dentro do ambiente cético da universidade. De maneira emocionante e com muito sucesso. O filme do diretor Harold Cronk (baseado no best-seller de Rice Broocks) vem na esteira de “Noé”, terceira maior bilheteria do ano no Brasil, com quase cinco milhões de espectadores. Explica-se: narrativas do Velho Testamento agradam a população protestante, que é a que mais cresce no País. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em dez anos (entre 2000 e 2010), os evangélicos saltaram de 26 milhões para pouco mais de 42 milhões de pessoas. A proporção de evangélicos em relação à população brasileira cresceu de 15,5% para 22,2% nesse período.

E “Noé”, uma megaprodução de US$ 125 milhões, também estendeu seus tentáculos promocionais para o público católico. Apesar da reação desgostosa do Vaticano com a forma com que a passagem bíblica foi contada pelo diretor Darren Aronofsky, ou até por causa dela, o ator Russell Crowe usou seus visitadíssimos perfis nas redes sociais para mostrar sua cruzada pessoal para convencer o papa Francisco a ver o filme. Claro que não convenceu. Mas atraiu a atenção do mundo e lucrou US$ 360 milhões em bilheterias nas primeiras semanas de exibição.

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ATOS DE FÉ
Em "Deus Não Está Morto", jovem sofre preconceito dos colegas
de universidade por usar um crucifixo e defender a existência de Deus

O aguardado novo filme de Ridley Scott (“Blade Runner”, “Alien”) aposta, como “Noé”, em um enredo de origem bíblica. Com estreia prevista para dezembro, “Êxodo: Deuses e Reis” tem o galã Christian Bale no papel do profeta Moisés. O diretor já anunciou que deve permanecer no filão do Velho Testamento: seu próximo projeto será “Rei David”, baseado nas escrituras sagradas.

Também o Brasil entrega sua produção cristã ainda este ano. “Irmã Dulce”, de Vicente Amorim, estreia em novembro com a atriz Regina Braga no papel da religiosa brasileira prestes a virar santa. “Ela era quase subversiva, enfrentava uma estrutura bastante hierárquica. Fazia exatamente o que o papa Francisco prega hoje, que é sair da Igreja e ir para a rua”, disse Amorim à ISTOÉ.

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DILÚVIO
Russell Crowe na pele de Noé. Durante o lançamento, terceira maior
bilheteria do ano no Brasil, o ator tentou, pelo Twitter, convencer o papa a
assistir ao filme. O Vaticano, porém, não topou o merchandising hollywoodiano

O diretor conta que usou muitas fontes biográficas para construir o filme, mas que, no fim, preferiu ficcionalizar algumas passagens.
“Ela morreu há pouco tempo, então muita gente que conviveu com ela ainda está viva”, diz. Entre as biografias consultadas ele destaca “Irmã Dulce dos Pobres”, escrita por Maria Rita Pontes, sobrinha da personagem baiana.

O filme apresenta um recorte na vida da personagem que vai do fim dos anos 40 até o período da visita do papa João Paulo II ao País, em 1980, quando recebeu uma bênção especial do pontífice e o pedido para que continuasse seu trabalho de caridade. Na vida real, ele visitaria Irmã Dulce mais uma vez em outubro de 1991, quando ela estava internada e com a saúde frágil, dessa vez para conceder-lhe a extrema-unção. A religiosa morreria apenas cinco meses depois, no mesmo Hospital Santo Antônio que ajudara a criar cinco anos antes.

O sucesso do Jesus que fuma maconha e fala palavrão

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Exibida na faixa adulta do canal infantil Cartoon Network, a série de comédia “Black Jesus” mal estreou nos EUA e já vem gerando polêmica. O bispo Harry Jackson, da Igreja Cristã da Esperança da cidade de Beltsville, por exemplo, pediu que o seriado fosse boicotado por achar que ele reforça estereótipos raciais. Criada por Aaron McGruder, teve seu primeiro episódio exibido no último dia 7, mostrando um Jesus Cristo negro, alegre e bem-humorado convivendo com traficantes na região de Compton, em Los Angeles. Intitulado “Smokin’, Drinkin’, and Chillin’”, conta com cenas em que o personagem principal fuma maconha e fala palavrões. O tom geral da série é de um humor leve, com Jesus pregando a não violência e distribuindo conselhos em sua vizinhança.

Fotos: Divulgação; Ique Esteves