Se eleito, o candidato ao governo do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PR), pode trazer de volta à ativa policiais condenados pela Justiça e ligados às milícias do Estado. É o que indica gravação divulgada a centenas de policiais civis da ativa, na semana passada, por meio do aplicativo de mensagens por celular WhatsApp. Nas escutas, o ex-delegado Álvaro Lins, condenado a 28 anos de prisão por ter chefiado uma quadrilha quando estava à frente da Polícia Civil, exorta a categoria a pedir votos capazes de assegurar o triunfo do ex-governador nas urnas e, como consequência, garantir o regresso de seu grupo aos quadros da corporação. “Vamos para cima desse bando de filhos da p…Varrer essa gente do Rio de Janeiro”, brada. “Vamos ganhar isso, se possível até no primeiro turno. Essa é a minha voz, eu espero que seja a sua também”, diz o ex-delegado. Anexado ao áudio aparece o seguinte texto: “Atenção colegas da PCERJ: pesquisa GPP/12 de agosto! Garotinho 28%. Líder isolado! Estamos voltando!”.

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ELES QUEREM VOLTAR
Álvaro Lins (com a arma na mão) chefiou a Polícia Civil do Rio durante
os governos Anthony e Rosinha Garotinho. Durante o período,
montou um esquema de corrupção na instituição

Outro cabo eleitoral de Garotinho e um dos principais aliados de Lins, o ex-inspetor Fábio Leão, conhecido como Fabinho, também escreveu mensagens de texto conclamando milicianos a apoiar o candidato do PR. Em uma delas, afirma: “Irmãos, estive com nosso chefe, Dr. Álvaro (Lins), essa manhã, e o que ele me pediu para passar é o seguinte: com o apoio dos amigos das Vans, das comunidades que foram impedidas de terem suas próprias seguranças… provavelmente o nosso Gov. Garotinho ganhará no 1º turno!”. Segundo Fabinho, Lins teria lhe garantido que conversou com Garotinho e obteve dele a promessa de reintegrar o grupo deles.

O ex-inspetor foi preso na Operação Gladiador da Polícia Federal, em 2006, com três outros colegas, todos acusados de participação num esquema de corrupção na Polícia Civil. Fabinho foi condenado a 18 anos, recorreu e, como Lins, aguarda o julgamento do recurso em liberdade. Em nota, Garotinho adotou a tática do despiste na tentativa de se desvincular dos cabos eleitorais enrolados na Justiça: “Cada um faz campanha para quem quiser, com ou sem autorização do candidato”. O procurador regional eleitoral Paulo Roberto Bérenger disse à ISTOÉ que vai analisar o caso e, se constatar alguma irregularidade na propaganda, poderá abrir inquérito. Em nota, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ) informou que “como se trata de um caso concreto, que o TRE-RJ pode vir a julgar”, o tribunal não iria se manifestar a respeito do tema.

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Quando era chefe de Polícia Civil do Rio (entre 2000 e 2006, nos governos Anthony Garotinho e, na sequência, no de sua mulher, Rosinha Garotinho), Lins foi acusado de montar um esquema de corrupção na instituição, junto com Fabinho e outros. Eram chamados de “o grupo dos inhos”, devido aos apelidos no diminutivo. Ambos são acusados de lotear delegacias e dar proteção a integrantes da máfia dos caça-níqueis. Todos foram presos na Operação Segurança S/A, desencadeada pela Polícia Federal, e expulsos por Sérgio Cabral, em 2009. Garotinho também virou réu no processo, sendo condenado a dois anos e meio de prisão, pena que posteriormente foi convertida em distribuição de cestas básicas. De acordo com o último levantamento do Datafolha, divulgado dia 15 de agosto, Garotinho figura em primeiro na disputa ao governo do Rio com 25%, contra 18% de Marcelo Crivella (PRB) e 16% do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), candidato à reeleição. O cenário, portanto, revela-se completamente indefinido a essa altura da campanha.