A força com que a família enfrentou o drama de perder o mais influente de seus integrantes surpreendeu a todos. A viúva de Eduardo Campos, Renata, o irmão, Antonio, e os filhos do ex-governador apareceram para o País sem se curvar diante do fato inesperado. Desde o primeiro momento, eles, como se já estivessem refeitos da tragédia, procuraram rapidamente ocupar o imenso espaço aberto pela fatalidade. A explicação para o fenômeno reside na política. Descendentes diretos de Miguel Arraes, um dos grandes líderes da esquerda brasileira na segunda metade do século passado, eles nasceram com a vocação da vida pública. A característica pôde ser observada em vários episódios ocorridos desde que a notícia do acidente de Santos chegou a Pernambuco. Daqui para a frente, a natureza política dos Campos ficará ainda mais clara.

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OS HERDEIROS
No domingo 17, sobre o caminhão que levava o caixão de Eduardo Campos,
os filhos trajavam camisetas com os dizeres "Não vamos desistir do Brasil"

Pelo que ficou evidente nos últimos dias, em breve, os integrantes da família Campos serão incorporados à cena. Um dos lances mais simbólicos dessa disposição ocorreu no final da manhã do domingo 17. Ao desembarcar no velório no Palácio das Princesas, o ex-presidente Lula, amigo e ex-aliado de Campos, conversou com Renata ao lado do caixão, cercado pela multidão. Dois políticos pernambucanos ouviram parte do diálogo, travado com muito carinho. “Presidente, a minha maior preocupação é com meus filhos”, disse a viúva ao líder petista. Lula, então, olhou João Henrique, o mais velho dos rapazes, e disse-lhe em voz alta: “Você contará comigo”. Em seguida, os dois se abraçaram emocionados. Aos que presenciaram a cena ficou a certeza de que o rapaz vai entrar de cabeça na carreira para a qual já se prepara há algum tempo. E, também, que terá o ex-presidente como padrinho. Aos 20 anos, João é filiado ao PSB e herdeiro natural do pai na carreira política.

A disposição de assumir a vocação de Eduardo Campos se revelou logo no dia seguinte à tragédia. O País ainda acompanhava atônito as informações sobre a queda do jatinho usado pelo candidato do PSB na campanha presidencial quando uma frase dita por João Henrique foi tornada pública pelo primo Joaquim Pinheiro: “Perdi um pai e um líder, mas tem que se dar um jeito para que a bandeira dele não caia, porque os ideais dele são o futuro do Brasil”. Para quem é do meio, não resta dúvida de que se trata do discurso de um candidato. No início deste ano, ele chegou a pensar em concorrer a algum cargo eletivo, mas foi demovido por Eduardo sob o argumento de que ele deveria primeiro terminar o curso de engenharia.

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PRIORIDADE
Cotada para vice de Marina, a viúva Renata Campos (centro)
preferiu cuidar da família e dos filhos

Antes mesmo de entrar oficialmente em disputas eleitorais, João Henrique é considerado um cabo eleitoral de peso. Em Pernambuco, candidatos a deputado federal e estadual se articulam para levá-lo aos palanques. Sua participação nas campanhas dos aliados, porém, depende do aval da mãe. Por enquanto, a presença de Renata e dos filhos nas caravanas e nos programas eleitorais seguirá critérios rigorosos. Eles não querem banalizar o uso da imagem de Eduardo e, nos próximos anos, ficará claro que o projeto maior deles será trabalhar para eleger outros integrantes da família para cargos públicos.

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Nessas eleições, o clã se empenhará na campanha de Paulo Câmara (PSB) para o governo do Estado. Muito atrás de seu adversário, Armando Monteiro, nas pesquisas eleitorais, Câmara conta com o apoio de Renata e dos filhos para tentar chegar ao Palácio das Princesas. Ele foi secretário da Fazenda de Eduardo no governo estadual e é casado com uma prima do ex-governador. Nos bastidores do partido, avalia-se que a comoção provocada pela morte de Eduardo pode ajudar a alavancar a candidatura de Câmara.

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ATUANTES
Irmão de Eduardo, Antônio Campos já é familiarizado com a
política pernambucana. Ana Arraes, a mãe, é ministra do TCU

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Outro que pavimenta o caminho para as urnas é Antônio Campos, único irmão do governador, conhecido por “Tonca”. Filiado ao PSB, mas sem cargos no partido, ele divulgou no dia 14 de agosto, dia seguinte à tragédia, uma carta em defesa do nome de Marina Silva para cabeça de chapa na eleição presidencial. Na formação original, ela era candidata a vice. “Posicionei-me em favor de Marina porque essa seria, no meu entendimento, a posição de Eduardo e, naquele momento difícil, alguém da família precisava dar o rumo”, afirmou Antônio à ISTOÉ. “Em Pernambuco, estou empenhado na vitória de Paulo Câmara para continuar o trabalho de Eduardo”, acrescentou.

Antônio admitiu que não descarta candidatar-se em eleições futuras e, também, que o sobrinho João Henrique terá sempre seu apoio. Dentro do partido, acredita-se que ele pode se lançar prefeito em 2016 ou a deputado em 2018. Nessa segunda hipótese, “Tonca” terá de se entender com João para que um Campos não atrapalhe o outro.

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O LUTO
O filho de Eduardo Campos, José Henrique, 9 anos, comove o País ao
abraçar o caixão do pai, enquanto João Henrique, 20, tenta demonstrar força

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Nos primeiros dias sem o irmão, ele ainda deu grande contribuição ao partido por ter trabalhado para impedir que adversários como Armando Monteiro e o petista João Paulo, candidato ao Senado em Pernambuco, usassem a imagem de Eduardo em suas campanhas. Em decorrência de sua movimentação, o desembargador Alfredo Barbosa, do Tribunal Regional Eleitoral, acatou o pedido. Dois dias depois, porém, o TRE voltou atrás. O julgamento ocorreu depois do início do programa eleitoral na televisão e os desembargadores consideraram o uso da imagem de Campos pelos adversários da coligação “Pernambuco Vai Mais Longe” como simples homenagens que, portanto, não poderiam ser proibidas. No decorrer da campanha, eventuais veiculações que possam macular a imagem do ex-governador pernambucano serão analisadas caso a caso.

O nome de Renata Campos também apareceu com frequência nas especulações feitas nos dias seguintes à morte de Eduardo. Ela esteve cotada, principalmente, para ocupar a vaga de vice na chapa de Marina Silva. Essa possibilidade só foi sepultada na terça-feira 19, quando o partido decidiu pelo deputado gaúcho Beto Albuquerque. A viúva avaliou que sua prioridade deve ser cuidar dos cinco filhos. Um deles, Miguel, tem pouco mais de seis meses de idade. Com essa decisão, os brasileiros continuarão a ver nos próximos anos a imagem de Renata agarrada com a prole – marca registrada da família nos dias de luto. Muitas vezes, estarão em cima de palanques, pois os Campos são assim, abraçados com a política.

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