Um dos maiores autores de sua geração, João Ubaldo Ribeiro morreu na madrugada de 18 de julho, em sua residência, no bairro do Leblon, Rio de Janeiro, vítima de uma embolia pulmonar. O baiano de Itaparica, nascido João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro, em 23 de janeiro de 1941, formou-se em direito na Universidade Federal da Bahia, mas jamais exerceu a profissão. Enveredou cedo para a literatura, “vício” que manteve ao lado do cigarro e da bebida. Ao longo de seus 73 anos, escreveu incansavelmente. Publicou seu primeiro livro “Setembro Não Tem Sentido”, aos 27. Três anos mais tarde, veio o clássico “Sargento Getúlio”, que virou filme. Em seguida, Ubaldo lançou “Viva o Povo Brasileiro” (1984), marco fundamental do romance moderno brasileiro. “O maior talento de minha geração. Nenhum de nós igualou ‘Viva o Povo Brasileiro’, um clássico”, publicou o escritor Ignácio de Loyola Brandão, um de seus grandes amigos, no dia de sua morte.

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PREFERÊNCIA
O escritor baiano João Ubaldo Ribeiro: "Detesto andar, faço isso porque
sou chantageado pela família e pelos médicos"

Muito da obra de Ubaldo caiu no gosto público pelas adaptações. “O Sorriso do Lagarto” (1989) foi transformado em minissérie dois anos depois pela Rede Globo. “A Casa dos Budas Ditosos”(1999) virou peça de teatro com a atriz Fernanda Torres. Seu último livro foi “O Albatroz Azul” (2009).

Ubaldo escreveu nove romances, além de um volume grande de contos, ensaios, peças de teatro, adaptações para a televisão e crônicas para jornais. Traduziu suas próprias obras editadas em língua inglesa (há edições de seus livros em cerca de 17 países). Festejado pelo público e pela crítica, foi vencedor do Prêmio Camões (2008) e de dois Jabuti (1972 e 1984). Recebeu também os prêmios Anna Seghers (Alemanha) e o Die Blaue Brillenschlange (Suíça).

O escritor adorava uma boa conversa e ria muito dos contratempos cotidianos e das mazelas da própria vida, que fez questão de manter simples, mesmo sendo imortal da Academia Brasileira de Letras desde 1993, sucedendo Carlos Castello Branco na cadeira número 34. Gostava de acordar antes das 8 horas, cuidava das plantas e caminhava pelo calçadão por cerca de 20 minutos. Depois de se exercitar, escrevia até as 11h, almoçava e retirava-se para descansar às 14h30. Ao acordar, voltava a escrever até as 2h. Saía de casa mais para visitar amigos e bebericar no botequim Flor do Leblon. “Detesto andar, faço isso porque sou chantageado pela família e pelos médicos”, declarou à ISTOÉ, em 2002, confessando que tinha dificuldade em conviver com a velhice. “Jorge Amado dizia que tinham lhe falado muito das alegrias da velhice, mas não lhe apresentaram nenhuma. Comigo é a mesma coisa. Só conheço a preguiça de me abaixar, me cansar para colocar sapato.”

Foto: Leonardo Aversa/Agência o Globo 

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