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A Comissão Nacional da Verdade (CNV) concluiu que o ex-presidente Juscelino Kubitschek morreu em decorrência de um acidente, afastando a suspeita de que ele teria sido vítima de um atentado. A constatação está em linha com versão oficial de que ele sofreu um acidente de trânsito na rodovia Presidente Dutra em 1976.

“Não há nos documentos, laudos e fotografias trazidos para a presente análise qualquer elemento material que, sequer, sugira que o ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira e Geraldo Ribeiro tenham sido assassinados, vítima de homicídio doloso”, afirma uma das conclusões do relatório referente à pesquisa específica sobre o caso JK.

“O conjunto de vestígios materiais indicam que o ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira e Geraldo Ribeiro morreram em virtude de um acidente de trânsito”, diz outro trecho do relatório.

Segundo o relatório da CNV, o Chevrolet Opala, dirigido por Geraldo Ribeiro, se envolveu em um acidente com um ônibus da viação Cometa – uma “encostada”, nas palavras do perito criminal Pedro Cunha –, perdeu o controle e se chocou com uma carreta na pista contrária. A conclusão descarta a hipótese de que o motorista teria sido atingido por um tiro.

“A gente já começa a descartar hipótese de tiro ou um tiro ela vai dar uma guinada ou para o outro e faria isso com um ângulo muito acentuado. E não foi isso que aconteceu”, afirmou Cunha, que faz parte do corpo técnico da Comissão Nacional da Verdade. Para ele, o fato de o motorista ter tentado retomar o controle do veículo – constatado pelas marcas dos pneus – mostra que o Geraldo tinha consciência da manobra e, portanto, não poderia estar desacordado.

Outro indício explicado por Pedro Cunha se dá em referência a uma foto do crânio no motorista depois de exumado no qual aparece uma fratura na região frontal esquerda. Ele explica que a fratura se deu em razão do transporte do material cadavérico. “A borda de todas essas fraturas é branca. Tratava-se de uma fratura recente”, afirma.

O caso é objeto de investigação da Comissão desde 2012, quando o colegiado recebeu uma representação da seção mineira da Ordem dos Advogados do Brasil. Instalada em 2012 pela presidente Dilma Rousseff, a Comissão Nacional da Verdade é responsável por investigar violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, período que compreende o regime militar.

Morte por acidente contradiz análise da comissão de SP

A conclusão de que a morte de JK foi acidente contradiz a análise da Comissão da Verdade Vladimir Herzog, da Câmara Municipal de São Paulo. Em 29 páginas, o colegiado paulistano apresenta indícios e provas de que o ex-presidente teria sido assassinado. Na época da divulgação, o presidente da Comissão da Verdade de São Paulo, Gilberto Natalini, afirmou que o motorista de Kubitschek, Geraldo Ribeiro, havia sido baleado.

“(A equipe de peritos da Comissão Nacional da Verdade) não se convenceu dos argumentos apresentados pela Comissão Municipal de São Paulo e, com base neste estudo muito minucioso apresentado hoje, mantém sua convicção de que se tratou de um acidente”, afirmou o coordenador da CNV, Pedro Dallari. Ele afirmou ainda que os 103 indícios apontados pela comissão paulistana foram analisados pelo corpo de peritos da Comissão Nacional da Verdade. Dallari evitou fazer críticas mais contundentes à comissão municipal, que é parceira de pesquisa.

“A cabeça de Geraldo Ribeiro não foi atingida por projétil expelido por uma arma de fogo”, diz um trecho do relatório da Comissão Nacional da Verdade. “O fragmento metálico que se encontrava no crânio de Geraldo Ribeiro era um cravo metálico utilizado para fixar revestimento de caixões.”

Durante a apresentação do relatório, o perito criminal Pedro Cunha afirmou que o fragmento encontrado no interior do crânio de Geraldo após a exumação era de ferro doce, tipo de metal usado para revestimento de caixão, similar a uma tachinha. “Esse projétil tinha 7 milímetros de comprimento por 2 milímetros de radio. Isso é incompatível com qualquer arma de fogo”, afirmou.

A Comissão Nacional da Verdade explica que suas conclusões se basearam após análises de fotografias, reunião com o perito criminal que confeccionou o laudo de local do acidente, cópias dos autos da Comissão Externa que visou esclarecer as circunstâncias da morte de JK, reunião com o médico legista responsável pelo exame da ossada do motorista, dentre outros.