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A literatura está menos fantástica e poética com a morte, nesta quinta-feira (17), do escritor colombiano Gabriel García Marquez, o maior representante do realismo fantástico, que encantou leitores do mundo inteiro com o extraordinário painel da vida em uma cidade interiorana em “Cem Anos de Solidão”, publicado em 1967. Radicado no México, para onde mudou-se em 1960, o autor morreu aos 87 anos, completados no dia 6 de março. No fim do mês passado, ele havia sido internado para tratar de um quadro de pneumonia decorrente de um câncer que atingia pulmões, gânglios e fígado. Há quatro anos, tinha declarado que havia abandonado o ofício e, em 2012, foi diagnosticado com demência e perda de memória, um pesado golpe para quem escrevia embebido em narrativas da juventude.

Nascido em uma família de 10 irmãos, Gabo, como era conhecido, viveu até os oito anos idade com os avós em Aracataca – o avô Nicolás era hábil contador de histórias e veterano da Guerra dos Mil Dias, maior conflito civil de seu país; a avó Tranquilina, uma mulher também dada a muitos causos. Essa convivência o marcaria, sendo responsável pelo desenvolvimento de uma imaginação prodigiosa no escritor, que antes de se entregar à literatura estudou direito e ciências políticas em Bogotá (não se formou) e foi jornalista em vários periódicos. Gabo passou pelas redações dos jornais “El Universal”, em Cartagena, “El Heraldo”, em Barranquilha e “El Espectador”. Nesse último, publicou “Relato de Um Naufrágo”, considerada sua primeira obra de uma lista de 30, contadas as antologias jornalísticas.

Entre os seus romances mais conhecidos, além de “Cem Anos de Solidão”, traduzido para mais de 35 idiomas e com mais de 30 milhões de exemplares vendidos, destacam-se “Ninguém Escreve ao Coronel”, “A Incrível e Triste História de Cândida Eréndira e Sua Avó Desalmada”, “O Outono do Patriarca”, “Crônica de Uma Morte Anunciada” e “O Amor nos Tempos do Cólera”. Será lembrado, contudo, pela saga narrada em “Cem Anos de Solidão”, passada na cidade imaginária de Macondo e seguindo o fulgurante desfile de acontecimentos em torno da família Buendía-Iguarán por sete gerações. Nos 40 anos de sua publicação, a obra foi considerada a segunda mais importante da literatura em língua espanhola, só perdendo para “Dom Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes.

“Sua obra é extremamente política, extremamente humana, uma obra que tem uma carga desaforada de poesia”, disse o seu amigo e tradutor para o português, Eric Nepomuceno. Próximo de Fidel Castro e grande defensor do regime cubano, Gabriel García Marquez dizia que escrevia para que as pessoas o amassem. Premiado com o Nobel em 1982 e um dos mais populares escritores do século passado, ele emendou com ironia: “mas não precisavam me amar tanto”. 

Confira a seguir um trecho de "Cem Anos de Solidão".

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