O palco erguido no Hotel Nacional em Brasília na segunda-feira 14 acomodou lado a lado Marina Silva, a socialista recém-filiada ao PSB de quem se espera o papel de grande puxadora de votos, e Eduardo Campos, um político tradicional que ainda precisa demonstrar fôlego e musculatura eleitoral para chegar ao segundo turno das eleições presidenciais. Nesse clima e expectativa, Marina e Campos inauguraram na última semana uma nova etapa da aliança entre a Rede e o PSB, ao oficializarem a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente como vice na chapa que irá disputar a Presidência da República em outubro. O peso de Marina na aliança não é por acaso. Está ancorado em números. Pesquisas recentes de intenção de voto projetam o tamanho eleitoral da ex-senadora: ela tem 27% da simpatia do eleitorado, o equivalente a 27 milhões de votos, o que a coloca em segundo lugar, atrás da presidente Dilma Rousseff, em um dos cenários eleitorais. Campos, por sua vez, ainda tem desempenho acanhado. Sozinho, alcança 14% das intenções. Mas, ao tornar oficial a composição com Marina, o PSB espera que ao menos parte de seus milhões de potenciais eleitores marche com Campos para que ele possa deslanchar de vez nas pesquisas.

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AGORA VAI?
Eduardo Campos espera herdar parte dos 27%
do eleitorado simpático a Marina Silva

Em geral, analistas políticos colocam um pé atrás quando discorrem sobre o fenômeno da transferência de votos. Nas eleições de 2010, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contrariou os acadêmicos e transportou para Dilma a confiança que os eleitores depositavam nele. É bem verdade que, há quatro anos, as circunstâncias eram diversas. Lula deixava o País como um dos presidentes mais populares da história e Dilma, ungida por ele, encarnava a continuidade de um governo com altíssima aprovação. Campos sabe que o cenário e os personagens são outros. Mesmo assim, espera ter a mesma sorte. Se conseguir a proeza de convencer que ele e Marina são um só, a campanha contará com importante aporte da militância “marineira”.

A associação da imagem do socialista à da líder ambientalista passa por um acordo programático. “O compromisso que hoje assumimos são com a trajetória que temos e a trajetória que faremos juntos. Ao meu lado, Marina não estará só na campanha, mas estará no governo”, afirmou Campos. Garantir que Marina não será só uma vice, mas governará junto, é o mote dos estrategistas de campanha para convencer os eleitores da ex-senadora. Grande parte dos 27 milhões que prefere Marina é simpática, também, aos movimentos sociais que tomaram as ruas em junho do ano passado exigindo uma nova cultura política e administrativa para o país. Para se alinhar a essa faixa de eleitores, os marqueteiros de Campos trabalham para descolar dele a imagem de político tradicional. Outro desafio para herdar os votos de Marina é construir um histórico de administrador preocupado com a sustentabilidade.

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UNIÃO
O senador Aécio Neves (PSDB) selou na última semana
aliança com o DEM, de ACM Neto, e o PMDB na Bahia

Para sacramentar a aliança, no entanto, Campos teve de pagar um preço político. Marina condicionou a parceria nacional ao fechamento de acordos regionais que não prejudicassem seus correligionários. Em São Paulo, Márcio França (PSB) teve que desistir da ideia de embarcar formalmente na campanha de reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB), pois a Rede não aceitou participar de aliança com tucanos. Há problemas, também, no Distrito Federal, Amazonas e Maranhão, onde o PSB teve de se comprometer a não usar a máquina partidária para atropelar os aliados da ex-senadora. Na Bahia, onde na semana passada Aécio Neves (PSDB) selou a aliança com o DEM, de ACM Neto, e o PMDB, de Geddel Vieira Lima, também há problemas para montagem do palanque socialista. A união Campos e Marina passa ainda pelo entendimento sobre a política energética do programa de governo. Neste mês, PSB e Rede discutirão desafios para a crise de tarifa e fornecimento de energia no Brasil. O vice-presidente da sigla, Roberto Amaral, foi orientado a evitar polêmicas como a defesa da energia nuclear como alternativa de fornecimento até a chapa afinar o discurso sobre o tema. De início, Amaral, defensor ferrenho da tese, resistiu. Mas foi demovido da ideia após uma conversa com Campos. O episódio mostra de maneira inequívoca o poder da vice na chapa socialista.

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Foto: Adriano Machado/Ag. Istoé; Orlando Brito