Treze anos depois

Treze anos depois de conclamar o empresariado nacional a abandonar o País em caso de vitória de Lula nas eleições de 1989, o empresário Mário Amato não repetiria a frase infeliz. Hoje, diz que, se convocado, até daria uma força ao governo petista. “Sou Brasil Futebol Clube.” Eleitor de Serra, o então presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) diz que Lula evoluiu muito. Apesar disso, muita coisa ainda separa o empresário do metalúrgico. Em comum, apenas o dia de aniversário: 27 de outubro, quando completará 84 anos.

ISTOÉ – O sr. vai mudar de país?
Mário Amato

Claro que não. O mundo evoluiu e o Lula também. Eu nunca tive nada pessoal contra ele. Temos até algo em comum: fazemos aniversário no mesmo dia, 27 de outubro. Em todo o contato que tive com o Lula, ele mostrou ser uma pessoa diligente, determinada. Sou brasileiro. Tudo que eu puder fazer para que o Brasil seja aquilo que todos nós queremos, seja Pedro, seja Paulo, eu vou colaborar. Ele já não me assusta mais.

ISTOÉ – O sr. votou nele?
Mário Amato

Não. Eu votei no Serra. Agora, não quer dizer que eu farei uma oposição peçonhenta. Ao contrário, vou fazer todo o possível para que ele acerte.

ISTOÉ – O sr. participaria, se convidado, do governo Lula?
Mário Amato

Como consultor, se precisar. Eu sou Brasil Futebol Clube. Não voto nele por razões que não vale a pena explicar. Como presidente da Fiesp, construí 47 conjuntos educacionais e esportivos e ele nunca me prestigiou. O Senai, onde trabalhei por 40 anos, qualificou 33 milhões de brasileiros e ele também nunca prestigiou. Lula era um homem que acreditava que o bem só partia dele. Eu acho que não é assim, o bem parte de todos os lados.

ISTOÉ – O sr. acha que ele mudou?
Mário Amato

Mudou, mudou bastante. Hoje ele é um homem mais aberto…

ISTOÉ – Quais os obstáculos que Lula terá de enfrentar?
Mário Amato

Vou usar uma frase de um grande banqueiro internacional:“O Brasil está nesse momento como um barco em uma tormenta. Então,o melhor a fazer é desligar o motor, abaixar as velas e esperar.” E nós vamos ter que esperar. Lula não pode fazer milagre, assim como os outros candidatos. As promessas que foram feitas não podem ser realizadas a curto prazo. E, democraticamente, terão que ter o seu tempo e o seu momento para ser feitas.

ISTOÉ – O sr. acha que pode haver uma pressão insustentável?
Mário Amato

Pode. Mas nós temos que colaborar. O Brasil deu uma demonstração de democracia nessas eleições.

ISTOÉ – O que o sr. espera do governo Lula?
Mário Amato

Eu temo, estou aflito. Mas também estou esperançoso de que ele se cerque de gente boa. Lula não pode governar só com a equipe dele. Ele tem que governar com um Brasil democrático, com esses Estados grandes que não são PT. Ele terá que navegar nesse mar difícil
e tumultuoso com muita maestria. Já mostrou isso como líder sindical. Queira Deus que ele faça isso como presidente.