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A depressão pós-parto é uma doença conhecida. Já a pré-parto, nem tanto. A condição, porém, pode afetar até 20% das grávidas e trazer implicações para a saúde da mãe e do bebê. Por essas razões, a ciência começa a investigar com mais profundidade como ela se manifesta e suas repercussões. Busca também encontrar tratamentos eficazes, mas que não apresentem riscos tanto à mãe quanto à criança.

Um dos primeiros obstáculos ao enfrentamento da doença é a dificuldade de seu diagnóstico. Como saber se a tristeza da mulher é resultante da ebulição de sentimentos típica da gestação – portanto, passageira – ou se é algo mais profundo? Uma das formas de encontrar a resposta é prestar atenção aos sintomas. As gestantes acometidas por esse mal podem sentir tristeza, irritabilidade e dificuldade de concentração por período longo.

Os sinais podem ainda ser agravados pela culpa e sensação de fracasso como mãe. Afinal, assumir a tristeza num contexto social que considera que as grávidas devem ser sorridentes não é fácil e isso acaba fazendo com que muitas relutem em admitir que estão deprimidas, inclusive para seus médicos. “As pessoas não gostam de ver grávida triste. O próprio profissional de saúde custa a perceber”, conta Marco Aurélio Galletta, diretor da Sociedade Brasileira de Obstetrícia e Ginecologia da Infância e Adolescência. “Algumas mulheres tentam esconder porque se culpam. Mas diagnosticar e identificar a causa são fundamentais para o tratamento bem-sucedido”, diz a obstetra Viviane Monteiro, do Rio de Janeiro.

A doença está as­sociada à forma como a transformação de mulher em mãe é vivida e a fatores como histórico psiquiátrico, problemas afetivos e estresse. A oscilação hormonal e as alterações no corpo e nos hábitos advindas da gravidez também podem detonar a depressão. “Conflitos ou a ausência do parceiro, relação ruim com a família, perda de suporte financeiro, doenças e até carências nutricionais também agem como gatilhos”, explica a ginecologista Renata Aranha, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

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"Hoje eu fico feliz por ter tido coragem de enfrentar a situação"
Francine Mendes, economista, 26 anos. Ela teve a doença na segunda gravidez

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Pesquisas recentes demonstram que, para os bebês, há consequências diretas. Uma das últimas foi realizada pela Universidade de Yale (EUA). Depois de analisar o histórico de mais de 2,7 mil grávidas, os cientistas concluíram que as que tomavam antidepressivos apresentavam risco mais elevado de parto prematuro tardio (entre a 34a e 37a. semana de gestação). Isso significa chance de a criança nascer com peso abaixo do ideal e outras complicações típicas de prematuros, como pulmões ainda não totalmente amadurecidos.

O tratamento se baseia em terapia cognitivo-comportamental (modificação de padrões mentais e comportamentais associados à doença), aconselhada nos casos mais leves, e antidepressivos em situações mais graves. O uso de medicações deve ser feito com cautela. Um estudo publicado no “British Journal of Clinical Pharmacology” mostrou, por exemplo, que os antidepressivos da classe dos recaptadores seletivos de serotonina elevam o risco de hipertensão na grávida. A ginecologista Maria José Camargo, do Rio de Janeiro, alerta que substâncias como lítio e clonazepam devem ser evitadas pelo risco de má-formação no feto, mas defende que quem já toma antidepressivos mantenha a rotina. “Colocando na balança, é desejável ter uma mãe bem cuidada que possa cuidar da criança”, diz o médico Galletta.

A economista Fran­cine Mendes, 26 anos, superou a doença. Ela já tinha uma menina de oito meses e engravidou novamente, sem planejar. Além disso, tinha mudado de Estado e saído do emprego. “Me sentia terrível. Era uma sensação de tristeza”, conta. A economista procurou tratamento. Um mês depois o bebê nasceu, prematuro. Antidepressivos e mais terapia a levaram a dar a volta por cima. “Hoje eu fico feliz por ter tido coragem de enfrentar a situação”, afirma.

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