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Com a reintegração de posse praticamente consumada, os moradores que deixaram a comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos, vivem agora a angústia da incerteza. Sem saber exatamente que rumo irão tomar, os que ainda não retiraram seus pertences de dentro de casa temem não rever em boas condições o pouco que têm.

A Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é um dos alojamentos provisórios para as famílias que deixaram o terreno. O espaço é dividido basicamente por crianças e idosos, além de alguns adultos. As pessoas se acomodam como dá. Os bancos ficaram juntos, próximo ao altar, enquanto colchões foram espalhados na parte de trás do templo. 

O local foi onde Josefa Diniz, 75 anos, passou as últimas noites. Aos poucos ela contou sua história, que ficou no bairro onde viveu nos últimos cinco anos. Abatida, ela disse que mal conseguiu comer nos últimos dias. "Aqui não falta comida, mas o problema é que ela não desce. A garganta está travada, o coração apertado. Não adianta engolir. O que ficou para trás, a gente não esquece", disse ela. 

Josefa recebe benefício do INSS e tem descontados, por mês, R$ 92 por conta do material de construção que comprou no início do ano passado para melhorar a sua moradia. Parte desse material ficou empilhado no quintal, já que a condição financeira ainda não havia permitido o início da obra. O valor ainda será descontado pelos próximos dois anos, tempo até o fim do financiamento. 

Raimunda Souza Ávila, 58 anos, é outra que aguardava notícias sobre os pertences. O marido foi ao local durante a manhã para reaver as coisas da família. "Quem está indo na frente está desesperado. Nem todo mundo está conseguindo tirar tudo direitinho. Eles (a polícia) não podem fazer isso com a gente." 

Nesta terça-feira, os moradores também devem deixar a igreja para ir a outro abrigo provisório. Segundo os que estão no templo, o padre afirmou que "a obra de Deus não pode parar" e que a igreja precisa seguir a sua rotina. Procurado, ele disse que não daria entrevista. "Tenho coisas mais importantes para fazer", afirmou.

Pertences

As famílias despejadas tiveram dificuldades para reaver seus pertences. Vários moradores disseram que foram impedidos de ter acesso às suas moradias para pegar seus bens. A PM faz um controle rigoroso de quem se aproxima da área do terreno. “Passei o dia inteiro tentando e não consegui caminhão”, disse Eliane Alves. Segundo ela, o preço dos fretes subiu com a procura impulsionada pela desocupação do terreno. Ela tentava levar a mobília da antiga casa para a residência da cunhada.

Zelador e pai de cinco filhos Edeval Oliveira disse que morava no Pinheirinho a quase oito anos, agora quer levar as coisas que comprou para a casa de uma tia. “Tenho tudo, cama, TV, DVD e dinheiro guardado”, declarou. Vanaildo Silva disse que foi retirado de sua casa pela polícia de maneira truculenta, e não lhe deram tempo nem de pegar os documentos pessoais. “Me jogaram no chão, disseram que eu era vagabundo. Mandaram eu nem olhar para trás, se olhasse tomava tiro”. Ele estava só no momento da operação. Precavido, desde o começo da semana mandou os dois filhos e a mulher para a casa da avó.

O prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury, disse em entrevista na noite dessa segunda-feira (23) que a tutela dos bens dos moradores do Pinheirinho é de responsabilidade da massa falida da empresa Selecta, proprietária da área. Os objetos que os moradores não conseguiram retirar das casas foram levados pela empresa para um depósito. Segundo o balanço da prefeitura, já foram feitas cem mudanças.