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No mês passado, dezenas de líderes do Movimento dos Sem Terra (MST) publicaram um manifesto rompendo com a organização por ela haver se tornado demasiado governista, distante de suas lutas históricas. O racha na cúpula comprova a mudança drástica sofrida por esse movimento e constatada por ISTOÉ em setembro. Fundado em 1984, o MST fez história no País. Angariou legiões de simpatizantes, organizou excluídos, pôs na parede latifúndios improdutivos e ameaçou revolucionar o campo. Em 2011, no entanto, mostrou que hoje não passa de uma pálida imagem do que já foi. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o número de famílias acampadas ligadas ao movimento diminuiu seis vezes em uma década. Durante o governo Lula, a queda foi ainda mais abrupta: de 32.738 famílias para 1.204. Boa parte dos acampamentos dos sem-terra agora são apenas amontoados de barracos vazios, habitados unicamente nos fins de semana para atividades de mobilização do MST. A luta pela terra virou uma atividade secundária. Essa perda de importância, no entanto, não se refletiu no acesso a verbas públicas. Apesar de o MST não existir juridicamente, os repasses à organização, por meio de entidades e cooperativas, triplicaram, segundo a ONG Contas Abertas. O momento econômico influi diretamente no declínio do MST. Os programas sociais de transferência de renda, o aumento da produtividade das lavouras e os empregos gerados pelos avanços do agronegócio reduziram os bolsões de miséria no campo, principal fonte de captação de novos militantes. Nas cidades, o número de carteiras assinadas também bate recorde. Sem contar que a própria ideia da reforma agrária como modelo de desenvolvimento saiu da pauta do governo federal. Não faz parte sequer da principal bandeira de erradicação da pobreza extrema do País, o Brasil Sem Miséria.